Quando pensamos na palava pacto, a primeira coisa que vem à mente é a ideia de um contrato entre, pelo menos, duas partes. Nesse contrato, há condições, promessas e penalidades. O primeiro pacto, o chamado das Obras, Deus tratou com Adão, sendo este o representando de todos os seus descendentes com relação a essa aliança(ou pacto).
Neste, a promessa dada por Deus era a vida. A condição era a perfeita e completa obediência pessoal. Como o ser humano quebrou o Pacto das Obras, surge o da Graça (Gn 3.15), por causa do que a Confissão de Fé de Westminster[1] chama de incapacidade do homem de ter vida. Dessa forma, “o Senhor dignou-se a fazer um segundo pacto”. Diferentemente do primeiro, Deus “livremente oferece a vida e salvação através de Jesus Cristo aos pecadores, exigindo apenas fé destes em Cristo, prometendo dar a eles a vida eterna e Seu Santo Espírito, para dispô-los e habilitá-los a crer”.
O teólogo O. Palmer Robertson[2] – autor do livro O Cristo dos Pactos – contribui para o nosso entendimento afirmando que aliança feita pelo Todo-Poderoso “é um vínculo de sangue soberanamente administrado”. Com o objetivo de tentar explicar tal definição, sugiro a seguinte ilustração: quando um casal escolhe adotar uma criança, os futuros pais fazem o compromisso de cuidar dela independente das circunstâncias. Ainda não sabem se ela vai ser rebelde ou não. Não importa. Os pais “soberanamente” (decisão unilateral – sem a participação da criança) concordaram em cuidar dela até o fim. Nesse sentido, soberanamente, o Deus Pai fez um pacto com o Deus Filho para salvar todos os eleitos através dos séculos pelo sangue derramado do cordeiro, seu próprio Filho: Jesus Cristo.
Encontramos também a palavra “concerto” com a mesma ideia de pacto/aliança. Segundo o dicionário VINE[3], tal palavra em hebraico (diatheke) significa primariamente “disposição de propriedade por vontade ou não”. Origina-se de um verbo que significa “cortar” ou “dividir”, em alusão a um costume sacrificial com relação a “fazer concerto” (Gêneses 15.10 e Jeremias 34.18,19). Entendemos com isso que todos os sacrifícios realizados no Antigo Testamento (AT) simbolizavam o principal e mais importante de todos, o de Cristo na cruz. Uma vez tendo sido morto e seu sangue derramando, disse Jesus: “Está consumado” (João 19.30).
Se Deus não tivesse tomado a iniciativa para salvar o homem, não haveria pacto. A Confissão de Fé Batista de 1689[4] afirma: “A distância entre Deus e a criatura é tão grande que, embora as criaturas racionais lhe devam obediência, por ser Ele o criador, elas jamais poderiam alcançar o Dom da vida, senão por alguma condescendência voluntária da parte de Deus. E isto Ele se agradou em expressar por meio de um pacto com o homem”.
Quanto à palavra “graça” existem alguns significados dependendo do contexto. No entanto, neste estudo o sentido é semelhante a At 7.10: “e o libertou de todas as suas tribulações, dando a José favor e sabedoria diante do faraó, rei do Egito;…”. Seria um favor divino, um ato de benevolência, boa vontade em geral. É algo dado por Deus, sem nenhum merecimento da nossa parte – independe da nossa vontade.
Dessa forma, também, podemos definir Pacto da Graça como um compromisso do Deus Pai para a salvação dos eleitos, absolutamente pela sua vontade e sem merecimento humano, através do sangue derramado na cruz do seu único Filho Jesus, o Cristo.
Notas:
[1] – HODGE, Alexander. A Confissão de Fé de Westminster Comentada por A.A.Hodge. SãoPaulo: Puritanos,1999,p.171
[2] – O. Palmer Robertson (Th.D., Union Theological Seminary, em Richmond) é o principal e diretor do Africano Bible College em Uganda e professor adjunto de Antigo Testamento no Seminário Teológico Knox. Ele tem servido pastorados em vários estados, falado em muitas conferências, lecionou em vários seminários, palestras e na África, Europa, Ásia e América Latina. Seus livros incluem The Genesis of Sex, The Israel de Deus, e Compreender a Terra da Bíblia. Fonte: http://www.monergism.com/directory/link_category/Audio-and-Multimedia/All-Speakers-Lectures-and-Sermons/O-Palmer-Robertson/
[3] – VINE,W.E.DicionárioVINE.6ed.RiodeJaneiro:CPAD,2006.Página486.
[4] – Capítulo7 – OPactodeDeus,página8.
Fontes:
Robertson, O. Palmer. O Cristo dos Pactos. Ed. Cultura Cristã, 2002;
VINE, W.E. Dicionário VINE. 6 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006;
Confissão de Fé Batista de 1689;
http://wilsonporte.blogspot.com/2010/10/o-pacto-da-graca-uma-breve-introducao.html.

Antonio Paulo Castro Corrêa é formado em Bacharel em Ciências da Computação pela UNAMA/PA, pós-graduado em Engenharia de Projetos em Sistemas da Informação pela UNICESP/DF, formado em Teologia pelo Seminário Martin Bucer/SP e pós-graduando em Pregação Expositiva pela FTRB/DF. Em 2009, fundou o blog Justificação pela Fé ao conhecer mais profundamente a doutrina da justificação pela fé que tirou sua esposa da depressão. É pastor e autor de artigos e vídeos no site Justificação pela Fé e líder da Conferência Justificação pela Fé que acontece anualmente em igrejas diferentes. Atualmente, congrega na Igreja Batista Reformada de Brasília. Trabalha na área de TI da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. Paulo Corrêa é casado com Pâmela Corrêa, e têm uma filha chamada Ana Vitória Corrêa e vive em Águas Claras/DF.